A IMPORTÂNCIA DO CONTATO COM A NATUREZA PARA O DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR INFANTIL
- Togni, G. (2015). A importância do contato com a natureza para o desenvolvimento psicomotor. Portal Educação. Consultado em: https://www.portaleducacao.com.br/pedagogia/artigos/62682/a-importancia-do-contato-com-a-natureza-para-o-desenvolvimento-psicomotor
O desenvolvimento global de uma criança, conceito amplo que compreende uma transformação complexa, continua, dinâmica e progressiva, é indissociável da atividade motora. Desde o nascimento o recém-nascido usa o movimento corporal como meio de expressão de vontades e emoções e interação com o meio envolvente. De fato, a aquisição de competências físicas, cognitivas e psicossociais inerentes ao desenvolvimento decorre da relação com o meio social em que a criança vive e que explora, pelo que os espaços e lugares que delimitam e atribuem significados à sua realidade assumem uma importância fulcral. As crianças experimentam por meio de brincadeiras e atividades motoras habilidades mais complexas, adquirindo-as gradualmente. Segundo Gesell (2003) apenas um ambiente favorável permite que as crianças retirem o máximo das suas potencialidades inatas.
Segundo Tiriba (2010), para uma boa aprendizagem é necessária uma ligação frequente e profunda das crianças com os elementos naturais. O contato com a natureza permite que as crianças percebam o mundo de uma perspetiva sensorial, através de cheiros, cores, formatos e texturas, física e espacial, pois possibilita que a criança adquira consciência de diferentes grandezas espaciais (o espaço natural é muito maior que a casa que habita). Desta forma, a natureza corresponde a um ambiente estimulador psicomotor.
Todavia, vivemos numa sociedade atual em que as brincadeiras ao ar livre e o contato com os elementos naturais são muitas vezes associadas a falta de higiene e doenças, e em que a superproteção das crianças as privam de explorar o meio natural envolvente. De acordo com Louv (2008), o medo dos pais é o principal motivo que separa as crianças dos benefícios da natureza e, consequentemente, do seu desenvolvimento pleno. A isto acresce a urbanização e consequente redução de espaços verdes, a modernização tecnológica e o aumento crescente de violência, que confluem para um contacto cada vez menor das crianças com a natureza.
Ingunn Fjørtof (2004), nas suas pesquisas em ambiente escolar, comparou crianças cujo o contato com o meio natural era fomentado, com crianças cujas atividades escolares se restringiam ao pátio, tendo concluído que no primeiro grupo existiam melhorias significativas em todas capacidades motoras, à exceção da flexibilidade, comparativamente ao segundo grupo.
Do mesmo modo, Titman (1994) mostrou claramente a preferência das crianças em realizar brincadeiras e atividades ao ar livre, privilegiando as cores da natureza, as árvores, os locais para explorar, construir e escalar.
Assim, o presente artigo visa identificar aspetos psicomotores desenvolvidos nas crianças que participam em atividades em contato com a natureza em meio escolar, através da observação direta de aulas de educação física e atividades diversas realizadas ao ar livre e da aplicação de questionários aos professores.
A autora do artigo verificou evolução, fundamentalmente, em três habilidades psicomotoras nestas crianças: esquema corporal, estruturação espacial e motricidade global.
60% dos educadores identificaram o esquema corporal como a principal competência psicomotora desenvolvida no decurso das atividades supracitadas, atribuindo à natureza uma importância preponderante na compreensão da relação entre o eu (enquanto corpo) e o meio (área externa), facultando às crianças um ambiente desafiador e repleto de oportunidades para explorar o corpo e vivenciar estímulos sensoriais. Segundo Oliveira (1997) o esquema corporal é precisamente a construção e organização mental que a criança adquire gradualmente, de acordo com a experimentação corporal.
A motricidade global foi referida por 20% dos educadores, considerando as atividades ao ar livre uma fonte rica de obstáculos e desafios criativos e divertidos que permitem a mobilização dos grandes grupos musculares do corpo, melhorando a coordenação, o tónus muscular, a postura e a agilidade.
A estruturação espácio-temporal foi igualmente referida por 20% dos educadores, considerando que a liberdade de movimento e locomoção associada ao meio natural permite a vivencia de atividades que auxiliam a organização espacial e temporal.
De Meur e Staes (1984) corroboram a ideia de que as brincadeiras ao ar livre um dos meios mais relevantes para estimular a perceção do espaço e das relações entre os objetos.
Em suma, os espaços ao ar livre e o contato com a natureza permitem às crianças melhorar as suas habilidades psicomotoras, designadamente, o esquema corporal, a motricidade global e a estruturação espácio-temporal, uma vez que proporcionam um ambiente extraordinariamente rico em estímulos sensoriais como imagens, sons, cheiros, sabores e objetos para explorar, adquirindo maior conhecimento do seu corpo, das suas possibilidades e limites.