A SOCIEDADE PERANTE O LAZER

28-11-2016

- Magalhães, D. (1991). A sociedade perante o lazer. Geração do lazer ou do não-sei-que-fazer. Revista da Faculdade de Letras: Sociologia, 1, 165-174. Consultado em: https://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/artigo3071.pdf

- GERAÇÃO DO LAZER OU DO NÃO-SEI-QUE-FAZER

Este estudo pretende enquadrar o lazer em termos sociais, culturais e económicos, tendo em conta a evolução cultural das práticas de lazer e as caraterísticas da sociedade. A base deste estudo foi uma experiência pedagógica, com a realização de um questionário a 24 alunos do 3º ano do curso de Sociologia, da Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

O questionário era comporto por três perguntas abertas: 1) O que entende por lazer?; 2) Como costuma ocupar os seus momentos de lazer?; 3) O que mais gostaria de fazer nos seus momentos de lazer?.

- Do trabalho ao lazer

A ideia que a sociedade tem de "lazer", está diretamente ligada a uma prática laboral e ao tempo livre que vai para além do trabalho e das tarefas ditas obrigatórias. Desta forma, de acordo com o questionário elaborado, 88% das respostas vão ao encontro desta pequena definição, salientando a oposição lazer - trabalho e a sinonímia lazer - tempo-livre.

Tal como Joffre Dumazedier (1979) refere, o lazer pressupõe o trabalho como uma libertação periódica, ocorrendo apenas no fim do dia, da semana, do ano ou, até mesmo, no fim da vida de trabalho. Este fato, de acordo com a autora do artigo, serve para nos alertar do fato que o lazer é visto como um fenómeno cultural recente e, por isso, apesar de sempre ter existido tempo-livre, nem sempre existiu o conceito de lazer.

Esta última autora, dissocia então o conceito de «tempo-livre», do conceito de «lazer», definindo este último como uma determinada ocupação que um indivíduo tem no seu tempo livre, após o cumprimento das tarefas obrigatórias. E, por outro lado, a definição de tempo-livre, surge por interligação ao trabalho, ou seja, diz respeito ao tempo libertado ao trabalho.

É importante salientar que o lazer pode ainda ser visto como uma atitude psicológica do indivíduo, ou seja, é independente do tipo de atividade realizada e, deste modo, até o trabalho pode ser visto como lazer. Para reforçar esta ideia, destacam-se duas respostas obtidas na experiência pedagógica, quer na 3ª questão, em que um dos estudantes referiu «gostaria de ter mais tempo de lazer; de não ler que distinguir lazer do trabalho», quer na 1ª questão, onde outro estudante afirmou «Cada pessoa tem uma concepção de lazer diferente. Para muitos o próprio trabalho, quando dá prazer, é cisto como lazer». Por outro lado, e tendo em conta o mesmo pensamento, não podemos excluir o «nada-fazer» do lazer. É interessante perceber que 17% dos estudantes apontam o «não fazer nada» como uma das ocupações durante o tempo de lazer.

Segundo a autora, um dos pontos fulcrais, dentro deste tema, é perceber o que é isto de «geração do lazer» e «geração do não-lazer». Quando nos referimos à primeira expressão, imediatamente o nosso pensamento foca-se numa imagem de juventude, excluindo, à partida, o lazer nas outras gerações. Desta forma, é importante entendermos que a população "menos jovem", não pode ficar, de todo, esquecida quando nos referimos ao lazer, visto que este abrange toda a sociedade.

Um outro aspeto, referido pela autora, é a ideia de que o lazer não é vivido de forma linear nem homogénea pela sociedade, uma vez que se processa de forma desigual nos diferentes indivíduos. Contudo, e como consequência direta do consumismo de certos bens de lazer (e.g. livros, vídeos, c.d's), e da sua produção, cada vez mais ocorre uma estandardização destes, acabando por condicionar o indivíduo nas suas opções de lazer. Assim, cada vez mais, o leque de atividades de lazer fica condicionado, para os indivíduos do mesmo estatuto sócio-económico e cultural, salientando-se nesta perspetiva os adolescentes/jovens em geral. Estes últimos, apesar de realizarem diversas atividades, como ir a cafés, bares, cinemas, discotecas, teatro, é muito provável, que «acabem a noite novamente no mesmo pub ou discoteca» onde foram da última vez.

É desta forma que surge a ideia do «não sei o que fazer». Os indivíduos que passam os dias em casa, à televisão, muito provavelmente não o fazem porque não sabem fazer mais nada ou porque não haja mais nada para fazer, mas sim porque se repetem, cada vez mais, as mesmas atividades de lazer que já estão estabelecidas pelo hábito.

Existem ainda alguns fatores que influenciam o comportamento face o lazer, como o sexo, a idade, a profissão, o grau de instrução, o estado civil, a classe social, o local de residência, entre outros. E, dentro destes, existem ainda aqueles comportamentos com maior ou menor influencia no tipo de atividades, destacando-se o meio familiar sócio-profissional onde o indivíduo se insere, como o mais influenciador.

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