INCORPORATING NATURE INTO THERAPY: A FRAMEWORK FOR PRACTICE
- Berger, R., & Mcleod (2006). Incorporating nature into therapy: a framework for practice. Journal of Systemic Therapies. 25(2), 80-94. Consultado em: https://www.naturetherapy.org.il/index.php?option=com_content&view=article&id=153%3Aincorporating-nature-into-therapy&catid=61&lang=en
O presente artigo refuta a ideia de que todo o processo terapêutico tem de ser realizado obrigatoriamente no interior de uma sala. Na realidade, os autores apresentam um conjunto de ideias criativas que podem e devem ser utilizadas ao ar livre, num espaço natural. Nesta linha de pensamento, o envolvimento deixa de ser apenas um cenário para se transformar num novo elemento que vai incorporar a díade terapeuta/cliente no processo terapêutico.
O principal objetivo deste artigo é então apresentar e discutir os princípios que são fundamentais estabelecer como alicerce à introdução da natureza na construção e no desenvolvimento de um processo terapêutico. Para isso, foram utilizados estudos casos do primeiro autor do artigo, que permitem distinguir o modo como esta terapia pode ser utilizada com diferentes clientes e em diferentes contextos.
Natureza como espaço terapêutico
De acordo com Berger (2003, 2004), na terapia ao ar livre, a natureza é tida como um envolvimento vivo e dinâmico, cujas caraterísticas influenciam o modo como o processo terapêutico decorre e criam-lhe novas dimensões e novos métodos, tornando-se, assim, uma mais-valia para o processo terapêutico.
Nesta terapia, o espaço escolhido representa simbolicamente uma "casa", i.e., um local de segurança, confiança e união entre a criança e terapeuta. De facto, a escolha, a construção e a manutenção deste espaço podem ser utilizadas para levar o paciente a refletir sobre uma panóplia de questões, nomeadamente, sobre a qualidade da casa onde vive, a segurança ou não que esta lhe oferece, a consciência que tem do seu eu, a noção dos limites, etc. Por outro lado, oferece ainda ao cliente a possibilidade de ter o controlo e a responsabilidade sobre o seu próprio processo terapêutico, o que pode ser transferido para outras situações da sua vida em que tem de tomar decisões.
Trabalhar num ambiente diferente do quotidiano do paciente permite fazer jogo simbólico, e, deste modo, colocar o paciente perante papéis e situações que possam ser difíceis de lidar na sua vida diária. Na realidade, a construção de uma "casa" na natureza permite ao paciente fazer a ponte entre o mundo concreto e o mundo de fantasia, e integrar, assim, os seus sonhos e desejos na sua vida quotidiana. O paciente é confrontado com um espaço natural e concreto, que o confronta permanentemente com situações inesperáveis e incontroláveis.
De facto, a escolha do panorama é de extrema importância, uma vez que cenários diferentes permitem trabalhar conceitos diferentes. Por exemplo, o ciclo pôr-do-sol e do nascer do sol, maré alta e baixa podem ser utilizados como símbolos do ciclo de vida e morte ou do passado, do presente e do futuro (Berger, 2005, 2006).
Em alguns casos, a terapia pela natureza permite trabalhar a relação corpo-mente. Na verdade, cada parte da natureza - a paisagem, os elementos, o tempo, os animais, etc. - tem um impacto específica em cada cliente, que leva cada um a refletir e a viajar pelo seu interior. Este encontro com elementos da natureza incontroláveis acaba por ter um grande impacto na criação de rituais.
Contudo, na atualidade, com o desenvolvimento de estilos de vida variados e individualizados e de contextos multiculturais, não existe nenhuma base religiosa, espiritual ou ritualística ou nenhuma linguagem simbólica que posso servir de alicerce comum à terapia das pessoas no geral.
Relação terapeuta/cliente/natureza
Num processo terapêutico realizado ao ar livre, a natureza intervém como um "co-terapeuta". Efetivamente, nesta relação o terapeuta pode assumir uma posição central, trabalhando diretamente com o cliente e introduzindo a natureza como cenário ou pode assumir um papel mais silencioso, de mediador, permanecendo em segundo plano, e permitindo ao cliente trabalhar diretamente com a natureza. Esta tríade pode ajudar o cliente a voltar a se conectar com o seu corpo, espírito, mente, criatividade e autenticidade.
Na realidade, o contacto com elementos da natureza pode desencadear fortes emoções e sensações que até então não foram compartilhadas (Berger, 2004, 2005). Na linha de pensamento do autor, o encontro físico, emocional e espiritual com a natureza permite ao individuo ter acesso a partes mais profundas da sua personalidade, e desenvolver qualidades que de outra forma seriam difíceis de aceder.
Deste modo, conseguimos compreender que a estética do ambiente afeta a demonstração de emoções da pessoa (Maslow e Mintz, 1956), bem como o comportamento social de um indivíduo (Barker, 1976, Hallz, 1976; Orzek, 1987, Pendzik, 1994).
Em suma, este artigo pretende enfatizar a importância que a incorporação da natureza no processo terapêutico pode ter não só no desenvolvimento da consciência ecológica e da conservação da natureza, como também no progresso pessoal do paciente. De facto, através desta terapia é possível trabalhar aspetos verbais, cognitivos, sociais, interpessoais, entre outros. Em conclusão, os autores defendem que o uso intencional da natureza pode ser aplicado a qualquer tipo de população.