JARDINS EDUCATIVOS E TERAPÊUTICOS COMO FATORES DE QUALIDADE DE VIDA URBANA
As cidades encontram-se cada vez mais carentes de áreas públicas onde as crianças possam estabelecer relações mais naturais e criativas com o meio e com outras crianças, tendo em conta o seu imaginário e a sua experiência sensorial. Na verdade, os espaços lúdicos possibilitam o brincar com um alto nível de interatividade, onde os próprios objetos e equipamentos suscitam na criança um forte interesse em serem trocados, manipulados e percorridos, relacionando-se com o outro.
Desta forma, o lúdico explora a motricidade, a imaginação, a descontração e cria situações que induzem a emoção, permitindo que a criança use os seus movimentos, os cinco sentidos e a intuição para usufruir da liberdade de escolha para brincar, tornando-se um desafio na hora de projetar os espaços livres.
É fundamental perceber que o conteúdo do brinquedo não determina a brincadeira da criança, ou seja, é o ato de brincar que revela o conteúdo do brinquedo. Para uma criança, o brinquedo faz parte da sua vida, simboliza a relação pensamento-ação, constituindo toda atividade linguística, ao tornar possível o uso da fala, do pensamento e da imaginação.
Neste sentido, é através do brinquedo que a criança atinge uma definição funcional de conceitos ou de objetos, e as palavras passam a fazer parte de algo concreto. Na idade escolar, o brinquedo não desaparece, mas permeia a atitude em relação à realidade, continuando na instrução escolar e no trabalho, que é baseado em regras.
Assim, os jardins educativos devem ter em conta a idade das crianças, a quantidade de crianças, a oportunidade de escolha, a estimulação sensorial e a manipulação.
Os jardins terapêuticos em hospitais, clínicas e núcleos de saúde são também essenciais na contribuição para o bem-estar dos pacientes, familiares e funcionários, no entanto, tornam-se igualmente importantes para a doença, estimulando a socialização, promovendo oportunidades de relaxação e encorajando a restauração do corpo e da mente. Em alguns lugares, os jardins encontram-se ligados a experiências emocionais intensas, tendo sido utilizados como uma forma de terapia, aliviando a dor ou assistindo as pessoas com dificuldades de orientação e equilíbrio, podendo assim ser classificados como terapêuticos.
Deste modo, o objetivo dos jardins terapêuticos é permitir aos seus ocupantes desfrutar de um local onde consigam experimentar uma sensação de bem-estar, apresentando como características essenciais a visibilidade, a segurança, a familiaridade, a oportunidade de escolha, as oportunidades para o contacto social e o contacto com a natureza.
O Projeto Crescer, apresentado neste artigo, é uma parceria entre a Prefeitura Municipal de Bauru e o Grupo Amor e Caridade que ajuda crianças carentes dos 4 aos 14 anos. A instituição localiza-se num terreno doado pela própria Prefeitura, onde foi realizado um projeto paisagístico, em 2008. A valorização da área externa e a criação de espaços para aulas e brincadeiras ao ar livre tornou-se no principal objetivo deste projeto.
Desta forma, o jardim dos sentidos foi então construído, possibilitando a relação com o tempo, com as cores e com os vários odores, pela existente aproximação com a realidade. Neste espaço, as crianças e os adultos são estimulados, fisicamente, mentalmente e espiritualmente, através da diversidade das novas interações. A acessibilidade tornou-se na principal preocupação deste projeto, compreendendo as restrições ou limitações sofridas pelas crianças, idosos e deficientes.
Na realidade, os jardins educativos e terapêuticos não devem ser vistos com um novo mercado de trabalho para os arquitetos, mas sim como um desafio na área de projeto, alterando de forma positiva a paisagem urbana e a qualidade de vida dos cidadãos. É essencial a participação dos que realmente irão utilizar estes espaços depois da implementação da proposta do projeto, tornando-o mais coerente com a necessidade das pessoas e compatível ao contexto sócio-económico existente.