RECREAÇÃO TERAPÊUTICA: A EDUCAÇÃO ARTÍSTICA EM CRIANÇAS SOB O TRATAMENTO ONCOLÓGICO EM PORTUGAL E NO BRASIL

10-11-2016

- Rocha, D. e Carvalho, G. (2013). Recreação terapêutica: a educação artística em crianças sob tratamento oncológico em portugal e no brasil. Atividade física e saúde, inclusão social e formação profissional, 2, 243-254. Consultado em: https://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/20062/1/SIEFLAS_RecreacaoTerapeutica.pdf

As crianças que têm o diagnóstico de doença oncológica têm de se confrontar com hospitalizações, que podem ser mais ou menos demoradas, dependendo do estado em que se encontram. Para além disso, podem também ser sujeitas a regimes terapêuticos bastante agressivos e invasivos (e.g. quimioterapia, radioterapia, cirurgias). Desta forma, segundos os autores, a fase de tratamento é a mais dolorosa para as crianças, uma vez que estas começam a sentir com mais frequências quer as intervenções médias, quer os efeitos secundários das mesmas (Araújo, 2011).

A maioria das instituições de cuidados oncológicos têm vindo, cada vez mais, a implementar nos seus programas de assistência, a noção de interdisciplinaridade, aumentando assim as possibilidades terapêuticas e os suportes complementares. Ao nível da oncologia pediátrica, salienta-se o suporte pedagógico de acompanhamento escolar.

É possível que algumas destas crianças, apresentem dificuldades ao nível da comunicação e, neste sentido, os aspetos de desenvolvimento biológico, cognitivo, social e motor podem ser contemplados com a Arte, como uma forma de educação. Contudo, é na dimensão afetivo-emocional, que esta apresenta mais amplas possibilidades de desenvolvimento.

Desta forma, para este estudo, selecionou-se então duas instituições que dão assistência a crianças com cancro - Instituto Português de Oncologia do Porto, em Portugal e o Grupo de Apoio à Criança com Câncer, no Brasil, com o objetivo de conhecer, compreender e comparar os aspetos ligados à educação artística durante o período de tratamento, nestas duas instituições. E, posteriormente, utilizar os resultados como forma de melhorar os serviços prestados a estas crianças, fazendo uma proposta de implementação de atividades artísticas em hospitais e instituições com serviço de oncologia pediátrica.

Assim, após a observação participada das atividades realizadas pelas crianças durante o tratamento e da realização de entrevistas a alguns elementos da equipa de apoio pedagógico, foi elaborado um questionário de 16 perguntas fechadas e abertas para 3 grupos distintos: A) Equipa Médica e não Médica, B) Pais e C) Crianças.

Segundo as respostas e as opiniões obtidas pelos indivíduos neste questionário, desenvolveu-se um instrumento de avaliação, com 46 itens, divididos em 3 subtemas (Domínio Comportamental, Domínio Pedagógico e Domínio Expressivo) e com 4 possibilidades de respostas (Concordo totalmente, Concordo, Discordo e Discordo totalmente), que foi então aplicado aos mesmo grupos A, B e C, das duas instituições (total de 132 indivíduos).

No que diz respeito ao Domínio Comportamental, a importância e o contributo positivo das atividades artísticas no tratamento oncológico, foi um dos aspetos mais salientados pela maioria dos inquiridos, dos dois países. As crianças portuguesas, assim como os grupos A e B dos dois países, afirmam que mesmo quando estão a receber medicamentos através de cateter ou outros dispositivos médicos, gostam de praticar estas atividades, o mesmo não acontece nas crianças brasileiras. Neste sentido, este último grupo afirma também que quando os tratamentos são mais dolorosos não gostam de realizar as atividades artísticas, ao contrário dos restantes grupos que afirmam manter o mesmo interesse nesta situação.

No que concerne ao Domínio Pedagógico, é importante percebermos que algumas atividades são mais procuradas do que outras, devido ao espaço e ao material disponível. A instituição do Brasil, apresenta um espaço maior, com uma grande área verde e também uma biblioteca, ludoteca, sala de música e salas de artes, sendo a maioria das atividades artísticas escolhidos pela criança, ocorrem na ludoteca. Já no hospital em Portugal, este apresenta duas ludotecas, equipadas com materiais de expressão plástica, expressão musical, brinquedos e jogos. Assim, em ambos os países, os três grupos consideram que as atividades artísticas contribuem para um melhor desempenho escolar.

Por último, no Domínio Expressivo, vimos que as crianças hospitalizadas frequentam todas as atividades oferecidas (e.g. desenho, pintura, modelagem, colagem, construção de objetos, teatro, artesanato e música). De acordo com a sua competência e com o seu gosto, as crianças podem optar por uma ou mais modalidades. De realçar a atividade musical, na instituição brasileira e a preferência de cores quentes, ao nível da pintura, nas duas instituições, que normalmente estão associadas à alegria.

Em suma, é importante salientar que a intervenção artística desempenha um papel importante, juntamente com as atividades de apoio pedagógico, incluídas no tratamento de cuidados de saúde em oncologia pediátrica. Assim, a formação de profissionais de apoio interdisciplinar torna-se fulcral, para aumentar a qualidade dos serviços prestados às crianças, nesta área.

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